Déjà vu

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Estava trabalhando quando recebi um telefonema de um canal de televisão que me pedia para falar sobre os acidentes dos últimos meses aqui da nossa região, pois neste final de semana havia ocorrido um grave sinistro em dois jovens que faleceram e um estava lutando pela sobrevivência na sala de uma UTI. Aquele instante entre entender o pedido e responder que sim ocorreu algo muito interessante, parecia que segundos se transformaram em um longo período. Parece que iniciei uma viagem. Viajava por um universo diferente, mas que, ao mesmo tempo, parecia tão igual ao presente daquele dia, justamente na data em que fazia 31 anos de serviço. Então percebi que havia desencadeado uma espécie de viagem ao passado, tipo ficção científica. Lembram do ícone De Volta Para O Futuro? Pois bem, em minha viagem esquisita, percebi que aquele cenário triste que havia sido indagado já estava em minha memória. Seria uma volta ao passado, pilotando o DeLorean DMC-12 (carro da viagem em De volta para o futuro), estava eu revisitando nossa região em algum tempo passado e vendo que os cenários de violência no trânsito continuavam, da mesma forma, sem explicação lógica, acontecendo sem que ninguém se desse conta da gravidade que se repercute pelo tempo? Pois, é, de repente acordei da viagem e voltei à realidade, e para minha surpresa, aquele sinistro que chamou atenção da mídia, que levou a imprensa a querer saber sobre os dados de sinistros, era realmente uma repetição, uma triste cópia dos anos que se passaram. Continua, ano após ano, a nossa sociedade míope diante da violência no trânsito. Parecemos escolher um sinistro para chamar de comovente para simplesmente justificar nossa apatia, mas logo após, devidamente postado nas redes, noticiado nas mídias, ele se some e vai se juntar aos outros tantos que uma vez já tiveram seu protagonismo. Aconteceu como o Déjà Vu, que no início do termo era tido como um episódio em que um fato presente lembrasse de forma estranha algo que a pessoa já vivenciou. No entanto, com o tempo, o termo foi popularizado e a estranheza passou a ser apenas uma lembrança qualquer. Por ironia, o termo técnico, que causava estranheza, passou popularmente a significar familiaridade. Então, podemos dizer que vivemos um constante Déjà Vu, onde os sinistros se repetem, a todo instante, vemos, vivenciamos, mas não nos causa mais estranheza, parece que já faz parte de nossas vidas como algo familiar, normal. Quem sabe um dia voltemos as origens do termo, e voltemos a nos estranhar com tamanha crueldade em nossas estradas!