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Estava revisando meus arquivos e encontrei um vídeo que uso muito em minhas palestras. É um vídeo de uma instituição australiana que mostra uma entrevista, onde uma pessoa é indagada pelo repórter: - Para você, qual o número aceitável de mortes no trânsito? O cidadão fica pensativo, mas não exita em falar alguns números que lhe surgem à mente: - Hum, acho que 100, ou 70... é, 70! Acho que setenta é um número aceitável. Neste momento, algo chama a atenção do entrevistado, e ele olha ao longe e vê um monte de pessoas se aproximando, quando o repórter diz a ele: - Lá são 70 pessoas! Neste momento, a voz do entrevistado embarga, ele gagueja e então fala: - Mas esta é minha família! Apavorado, ele muda de opinião e retifica sua fala inicial dizendo: zero! O número aceitável de vítimas é zero! Gosto muito deste recurso, pois ele traz uma reflexão muito interessante, ainda mais para nosso conturbado trânsito. Geralmente, e isto é uma tendência nacional, o problema é dos outros, é somente deles, mesmo que seja um problema social que, de certa forma, me diga respeito também, como no trânsito. Quando alguém sofre um sinistro, não é só ele que está sendo atingido, mas toda a sociedade, pois de certa forma vivemos em uma loteria, onde estamos esperando qual será a próxima vítima. Só que enquanto não for comigo, é problema dos outros, bem assim como mostra o vídeo. Mas agora, se alguém próximo é atingido, a coisa muda, aí eu sinto na pele o problema e ele passa a ser visto de uma forma diferente! Aí é onde quero chegar, até quando vamos esperar acontecer conosco para realmente entender que o trânsito é um problema de todos, e que necessita de uma discussão urgente de toda a sociedade, e como não sou alienígena, devo me envolver também? Será que vamos manter por quanto tempo a fala de 70, 50 como aceitável?
Será que vamos esperar um amigo, um parente próximo sucumbir no asfalto para lutarmos pelo Zero? Esta é a grande reflexão da campanha. Veja que em nossa cidade o número de sinistros no perímetro urbano vem crescendo muito e as vítimas aumentando, inclusive com ocorrências rotineiras de mortes. Será que não estamos iguais ao cidadão do vídeo, no início da abordagem, pensando que é comum haver mortes no trânsito?
E agora lhe pergunto, até quando vamos continuar pensando que Pimenta nos olhos dos outros é refresco?

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