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Santa Catarina lidera doações de órgãos e inspira solidariedade com exemplos da Serra Catarinense

22/10/2025 17:39

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No mês de setembro, dedicado à conscientização sobre a importância da doação de órgãos, Santa Catarina reafirmou seu protagonismo no cenário nacional. Dados divulgados pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) mostram que o Estado registrou, no primeiro semestre de 2025, a maior taxa de doação do país: 42,4 por milhão de população (pmp), número que mais do que dobra a média nacional de 19,5 pmp. Além disso, o índice de negativa familiar catarinense é um dos menores do Brasil — apenas 28,4%, contra 45% no restante do país.
De acordo com o site da Secretaria de Saúde do Estado, o resultado reflete uma política pública sólida e contínua. “A doação de órgãos salva vidas. Esses números são frutos da união entre a população, o Estado e os profissionais de saúde”, afirma no site, o Secretário da Saúde, Diogo Demarchi Silva. Entre janeiro e julho de 2025, a Central Estadual de Transplantes, vinculada à Secretaria da Saúde (SES), recebeu 450 notificações de potenciais doadores, das quais 207 se tornaram doações efetivas — um índice de 52,3 pmp em casos de morte encefálica.

Fonte: Registro Brasileiro de Transplantes – ABTO 2025


Estrutura e investimento constante
Com mais de 20 anos de história, o programa SC Transplantes é reconhecido como uma política de Estado consolidada. O Governo investe continuamente na capacitação de equipes médicas, na ampliação da estrutura hospitalar e na logística de transporte, o que garante segurança e agilidade no processo de captação e transplante. Hoje, o sistema catarinense está estruturado em 69 instituições hospitalares que atuam de forma integrada, tornando Santa Catarina referência não apenas no Brasil, mas em toda a América Latina.
O sucesso do modelo catarinense também se deve ao trabalho das Comissões Hospitalares de Transplantes, responsáveis por orientar famílias e conduzir os procedimentos dentro dos hospitais. O comprometimento dos profissionais e a empatia das famílias têm sido pilares fundamentais para manter o Estado na liderança nacional de doações e transplantes.


Serra Catarinense: exemplo de solidariedade

A Serra Catarinense tem se destacado como um dos polos mais ativos na captação de órgãos e no apoio a pacientes transplantados. Em Lages, o engajamento das equipes médicas e de grupos voluntários transforma histórias e salva vidas. Um exemplo é o grupo Somos Fênix Oficial, fundado por Paulina Barbosa, que transformou sua luta contra a falência renal em um projeto de amor e solidariedade.
Criado em 2015, o grupo nasceu quando Ivana Paulina, 37 anos, então paciente em estágio avançado da doença, começou a frequentar o Hospital Santo Isabel, em Blumenau. Lá, foi apelidada de “Fênix” pelos médicos, por sua força em renascer diante das adversidades. O apelido inspirou o nome do movimento, que hoje funciona como uma rede de apoio a pacientes com doenças crônicas, pré e pós-transplante, além de familiares e profissionais de saúde. O grupo, que começou de forma local, já alcançou reconhecimento internacional, com membros no Brasil, Estados Unidos, Angola e Portugal.


Doar é multiplicar a vida 

Para Paulina, que já passou por transplantes de pâncreas, rim e esclera ocular, a doação de órgãos é a mais pura expressão do amor humano. “O transplante é um verdadeiro quebra-cabeça, onde cada pessoa é uma peça essencial. Santa Catarina é um exemplo de solidariedade, um estado abençoado, onde muitas pessoas dizem ‘sim’ mesmo em momentos de dor”, ressalta. 
Em Lages, o grupo Somos Fênix atua em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde em campanhas de conscientização e educação. A secretária municipal de Saúde, Susana Zen, destaca que a cidade mantém contratos com os hospitais Nossa Senhora dos Prazeres e Infantil Seara do Bem, além do Hospital Tereza Ramos, todos com comissões internas especializadas no processo de captação.
“Após a confirmação da morte encefálica, as equipes mantêm as funções vitais por meio de aparelhos, garantindo que os órgãos estejam em condições ideais para transplante. Todo o processo é feito com extremo cuidado e respeito”, explica a secretária.


Vereador Éder Santos compartilha história de superação e reforça importância da doação de órgão

O vereador de Lages, Éder Santos, 33 anos, (Podemos), ressalta a sua trajetória de luta contra uma doença renal grave. Em 2021, com apenas 28 anos, Éder começou a sentir sintomas como cansaço extremo, dores de cabeça e pressão alta. Após realizar uma série de exames, foi diagnosticado com apenas 10% da função renal. A situação piorou rapidamente e, em poucas semanas, seus rins passaram a funcionar apenas 7%, o que o obrigou a iniciar o tratamento de hemodiálise para sobreviver. 
Durante um ano e um mês, o vereador enfrentou os desafios do tratamento, que incluíam restrições severas na alimentação e consumo de líquidos. Nesse período difícil, contou com o apoio fundamental da mãe, Dona Eliane, que decidiu realizar exames para verificar se poderia ser doadora. Após meses de avaliações e muita expectativa, veio a notícia esperada: ela era compatível. O transplante foi realizado com sucesso no Hospital Santa Isabel, em Blumenau, com acompanhamento da Associação Renalvida, que deu todo o suporte psicológico, nutricional e médico à família.
Além de relatar sua história de vida, Éder Santos destacou uma luta que ainda mantém: a criação de uma casa de apoio em Blumenau para pacientes de outras cidades que precisam realizar transplantes e não têm onde ficar. Segundo o vereador, essa é uma causa humanitária essencial para garantir acolhimento e dignidade a quem enfrenta longos tratamentos renais. Ele lembrou também que a doação de órgãos pode salvar até oito vidas e que a conscientização sobre o tema precisa ser constante.
Dona Eliane, visivelmente emocionada, falou sobre a gratidão por ver o filho saudável e viver com parte de si nele. Ela fez um apelo às famílias para que conversem sobre o desejo de doar órgãos e autorizem a doação em casos de morte cerebral, destacando que “uma vida pode salvar oito vidas”. Já o vereador deixou uma mensagem de fé e esperança: “Deus não se atrasa. A hora de cada um chega. E quando chega, é para transformar vidas.”


Hospital Nossa Senhora dos Prazeres: referência na captação de órgãos na Serra Catarinense

O Hospital Nossa Senhora dos Prazeres (HNSP), localizado na região serrana de Santa Catarina, é uma das instituições filantrópicas mais importantes do estado, atuando como referência em três áreas fundamentais da medicina: traumatologia, neurologia e cardiologia. O diretor e anestesista Dr. Rony Albert Westphal explica que o hospital recebe pacientes de toda a região com quadros de alta complexidade, especialmente em casos de acidentes graves e doenças neurológicas e cardíacas.

Avanços tecnológicos e atendimento de alta complexidade

Entre os grandes diferenciais do HNSP está a trombectomia mecânica, um procedimento de ponta utilizado no tratamento do acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, que permite remover coágulos cerebrais e restaurar o fluxo sanguíneo. Além disso, a instituição conta com UTI coronariana e infraestrutura para procedimentos cardíacos de alta complexidade, como cirurgias e cateterismos. Segundo o Dr. Westphal, “essas áreas concentram pacientes potencialmente graves, o que exige preparo técnico e humano para lidar inclusive com situações de morte encefálica”.

O delicado processo de doação de órgãos

A confirmação da morte encefálica é um momento de intensa dor para as famílias, mas também pode simbolizar um gesto de esperança para outras vidas. No Hospital Nossa Senhora dos Prazeres (HNSP), esse processo é conduzido com sensibilidade e acolhimento em um espaço especialmente preparado: a “Sala da Vida”.
O ambiente foi criado para oferecer conforto e tranquilidade aos familiares, contando com o apoio de uma equipe multidisciplinar formada por médicos, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros. Esses profissionais estão capacitados para prestar todo o suporte necessário e orientar sobre a possibilidade da doação de órgãos.
“É um processo profundamente humanitário, que transforma a dor em vida. O amor ao próximo é o que inspira o ‘sim’ que salva tantas pessoas”, enfatiza o diretor do hospital.


SC Transplantes e a rede de solidariedade catarinense 

O trabalho do HNSP é realizado em parceria com o SC Transplantes, órgão responsável por coordenar e organizar as captações em todo o estado. Equipes de várias regiões deslocam-se para buscar os órgãos e realizar o transporte com segurança e eficiência. Santa Catarina é hoje uma das maiores referências nacionais em transplantes, ao lado do Paraná, contribuindo também para o sistema de saúde em todo o Brasil. “O milagre da doação e do renascimento é algo que emociona e enche de esperança”, afirma o Dr. Westphal.
Apesar dos avanços, O Diretor do Hospital enfatiza que o processo ainda é emocionalmente desafiador para as famílias, que muitas vezes enfrentam longas horas de espera durante os exames de confirmação da morte encefálica. A sensibilização e a educação continuam sendo essenciais para ampliar o número de doadores. “A decisão do ‘sim’ torna o luto mais leve e enche o coração de paz”, conclui.
O diretor também sonha com novos passos: “Quem sabe, num futuro próximo, possamos realizar transplantes de rim na Serra Catarinense, fortalecendo ainda mais nossa rede de amor e solidariedade”.

Superando barreiras culturais

 Apesar dos avanços técnicos e estruturais, tanto Paulina quanto Susana reconhecem que ainda há desafios a vencer. “Muitas famílias confundem a doação com a interrupção da vida, mas o paciente já tem morte cerebral comprovada. Doar é um ato de amor que permite que outras pessoas vivam”, reforça Susana. Paulina completa: “Cada órgão doado continua a viver em outra pessoa. É o amor multiplicado em forma de vida.”
Com mais de duas décadas de evolução, a Serra Catarinense se consolidou como modelo regional. O Hospital Nossa Senhora dos Prazeres lidera o número de captações, seguido pelo Seara do Bem e pelo Tereza Ramos, que recentemente passou a integrar o programa. Lages já solicitou habilitação para realizar transplantes renais, ampliando o alcance desse trabalho que transforma vidas.
Como resume Paulina Barbosa: “Mesmo diante da dor, há sempre um gesto de amor capaz de transformar o destino de alguém. Dizer ‘sim’ à doação de órgãos é permitir que a vida continue.”


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